A procrastinação não é o problema, é só o sintoma 25/02/2025

A procrastinação não é o problema, é só o sintoma

Há algo que aprendi a duras penas com anos de terapia pessoal: tudo que você deseja para sua vida precisa vir do seu próprio esforço. Não me refiro apenas a conquistas materiais, embora elas também possam estar incluídas.
Quer perder peso? Melhorar profissionalmente? Construir um relacionamento saudável? Para tudo isso, é necessário agir. E essa é uma das maiores dificuldades no trabalho do terapeuta: convencer alguém de que ninguém fará isso por ele. Para muitas pessoas, essa ideia é desanimadora.
Antes de explicar o que significa realmente conquistar algo, é essencial entender o que é procrastinar o compromisso consigo mesmo.

O que é procrastinar de verdade?
O termo "procrastinar" é comumente associado ao trabalho e aos estudos, mas vai muito além disso. Quando procrastinamos, adiamos a realização de algo que traria um benefício futuro, optando pelo conforto imediato.
Imagine que você tem uma semana para entregar um relatório no trabalho, mas decide deixá-lo para o último minuto. O problema é que essa estratégia funciona – você consegue entregar algo, ainda que sob pressão extrema e com qualidade inferior ao que produziria com mais planejamento.
Vamos considerar um exemplo fictício: Mariana, de 28 anos, trabalha como assistente administrativa. Suas responsabilidades incluem organizar documentos e revisar relatórios. Embora consiga cumprir os prazos, ela se distrai constantemente com redes sociais e vídeos curtos, adiando suas tarefas até o último momento. Essa rotina a deixa ansiosa, sempre temendo ser desmascarada por sua falta de organização.
Fora do trabalho, Mariana também evita responsabilidades. Tem discussões frequentes com o namorado sobre a divisão das tarefas domésticas e foge de conversas sobre dinheiro. Para aliviar a pressão do trabalho, faz compras impulsivas, o que gera mais conflitos. No fim do dia, sente-se frustrada, como se estivesse desperdiçando seu potencial.

Procrastinação: O sintoma, não a causa
O problema não é "fazer nada", porque isso simplesmente não acontece. O comportamento humano não deixa espaços vazios. O tempo que Mariana deveria estar trabalhando é preenchido com atividades de recompensa imediata: rolar o feed do Instagram, pesquisar produtos na Shopee ou jogar no celular. Sempre estamos fazendo algo.
Esse padrão leva a uma vida marcada pela evitação do esforço, substituindo a ação comprometida por pequenas distrações. O resultado? Um ciclo de ansiedade, frustração e insatisfação.
Muitos acreditam que procrastinam porque são preguiçosos ou incapazes, mas a verdade é que a procrastinação é um efeito, não a causa. O real problema é a falta de envolvimento com seus próprios objetivos e a ausência de clareza sobre o que realmente dá sentido à sua vida.


A solução não é parar de procrastinar, mas se comprometer
Deixar o trabalho da faculdade para o último dia ou fingir que está ocupado até o prazo final pode parecer conveniente, mas perpetua o ciclo de insatisfação. No entanto, ninguém está imune à procrastinação. Até professores universitários com doutorado adiam tarefas.
O problema surge quando isso se torna um obstáculo contínuo para aquilo que é importante: construir um relacionamento saudável, planejar um casamento, mudar hábitos alimentares.
Se você quer sair desse padrão, primeiro precisa reconhecer que nada acontece sem esforço pessoal. E isso significa, muitas vezes, se aproximar mais da dor do que fugir dela.
No entanto, apenas se expor ao desconforto não basta. É preciso definir os critérios que justificam esse esforço. Se um relacionamento é importante, você precisará encarar conversas difíceis e momentos de vulnerabilidade. Se quer se tornar um especialista, precisará estudar textos complexos e desafiadores. Se deseja se exercitar regularmente, nem sempre fará isso com motivação.
Quando temos clareza sobre nossos "porquês", fica mais fácil suportar qualquer "como", parafraseando Nietzsche.

“Fugir da dor é fugir da própria cura”
Não importa o tamanho do desafio – seja responder um questionário que o seu professor pediu ou se mudar para longe da casa dos pais. Quando rejeitamos o desconforto natural do crescimento, também descartamos o significado por trás do esforço.
E você? Consegue listar os propósitos que realmente o motivam a enfrentar os desafios da vida?

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