Avanços recentes da FAP – Psicoterapia Analítica Funcional 13/11/2018 Psicologia e Análise do Comportamento Avanços recentes da FAP – Psicoterapia Analítica Funcional Compartilhar:

Autor: Yuri Lelis (CRP 08-26556)

Durante a década de 1990, Kohlenberg e Tsai (2011) desenvolveram a Psicoterapia Analítica Funcional (FAP), uma proposta de análise e intervenção clínicas que tem por base a relação terapêutica. Desde então, diversos estudos foram publicados utilizando a FAP como modelo de intervenção. Dentre eles podemos encontrar: estudos clínicos randomizados (ex. Keng et al., 2017), revisões sistemáticas (ex. Kanter et al., 2017), desenvolvimento de escalas (ex. Darrow et al., 2014), relatos de caso (ex. Oshiro, Kanter & Meyer, 2012), entre outros trabalhos.

Além desses temas mais comuns, também foram realizados estudos utilizando a proposta da FAP generalizada para outros contextos. Um exemplo é o artigo de Skinta et al. (2018), no qual os autores propõem o uso da FAP como forma de intervenção com pessoas que sofrem estresse de gênero ou de minorias sexuais. De acordo com os autores, os membros dessa população têm dificuldade de desenvolver relacionamentos íntimos, nos quais é necessário certo grau de vulnerabilidade, por causa do histórico de punições em resposta à vulnerabilidade autêntica, até mesmo por terapeutas. Nesse sentido, o terapeuta FAP responderia de maneira compassiva aos comportamentos de vulnerabilização do cliente na relação terapêutica.

Em relação às pesquisas teóricas, um exemplo é o artigo de Córdoba-Salgado (2017), que descreve uma visão molar da FAP. Com base no behaviorismo molar (Baum, 2013), o autor sugere o uso de uma medida de tempo para os CRB (sigla para Comportamento Clinicamente Relevante, em inglês), ao invés da usual medida de frequência. Isso porque, a frequência de CRB1 pode ser maior em uma sessão de psicoterapia, mas a duração dos CRB 2 pode ser maior. Uma simples análise de frequência pode concluir que o CRB 1 se sobressaiu na sessão, quando na verdade o cliente dedicou mais tempo aos CRB 2. Utilizar uma medida de tempo favorece uma comparação mais acurada da relação entre CRBs e as intervenções clínicas, além de também favorecer uma análise melhor dos efeitos da terapia no ambiente natural do cliente.

Sobre as pesquisas experimentais, o Brasil tem se mostrado um importante polo nos últimos anos. Como exemplo, podemos citar a pesquisa de Santos (2014), que comparou os efeitos de três tipos de intervenções: a) FAP não sinalizada (FAPNS), que consiste na modelagem de CRBs na relação terapêutica; b) FAP sinalizada (FAPS), que, além do uso da modelagem, também se utiliza da sinalização e descrição dos CRBs para o cliente, da descrição dos sentimentos do terapeuta em relação às ocorrências de CRBs, e na comparação dos comportamentos ocorridos em sessão com os ocorridos em ambiente natural; e c) análise das contingências externas à terapia (ACE).

Os resultados encontrados pela pesquisa de Santos (2014)[1] demonstraram que tanto as intervenções FAPNS e FAPS foram eficazes em aumentar a frequência de CRBs2 e diminuir a frequência de CRBs1, observando alterações nas taxas de CRBs na mudança entre as fases FAP e ACE. Também foi observado que o principal mecanismo de mudança na FAP é a modelagem, pois não foram encontradas diferenças entre as fases FAPNS e FAPS.

Em resumo, a análise das pesquisas recentes da FAP demonstra uma produção bastante variada no que diz respeito aos tipos de pesquisa. Essa característica é importante porque as diferentes pesquisas se somam e produzem uma área mais eficaz e mais flexível aos diversos contextos. Além disso, o acesso a esses materiais auxilia clínicos e pesquisadores a desenvolverem seu trabalho, contribuindo para a melhora clínica dos clientes que recebem esse tipo de intervenção e para o desenvolvimento da área da psicologia clínica comportamental.

Referências:

Baum, W. M. (2013). What counts as behavior? The molar multiscale view. The Behavior Analyst, 36(2), 283-293.

Córdoba-Salgado, O. (2017). Extended Behavior-Context Relations: a Molar View of Functional Analytic Psychotherapy. The Behavior Analyst, 40(1), 257-273.

Darrow, S. M., Callaghan, G. M., Bonow, J. T., & Follette, W. C. (2014). The Functional Idiographic Assessment Template-Questionnaire (FIAT-Q): Initial psychometric properties. Journal of Contextual Behavioral Science, 3(2), 124–135. https://doi.org/10.1016/j.jcbs.2014.02.002

Kanter, J. W., Manbeck, K. E., Kuczynski, A. M., Maitland, D. W. M., Villas-Bôas, A., & Reyes Ortega, M. A. (2017). A comprehensive review of research on Functional Analytic Psychotherapy. Clinical Psychology Review, 58, 141–156. https://doi.org/10.1016/j.cpr.2017.09.010

Mangabeira, V. (2014). Efeitos da sinalização de intervenções na psicoterapia analítica funcional (Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo).

Oshiro, C. K. B., Kanter, J., & Meyer, S. B. (2012). A single-case experimental demonstration of Functional Analytic Psychotherapy with two clients with severe interpersonal problems. International Journal of Behavioral Consultation and Therapy, 7(2-3), 111.

Skinta, M. D., Hoeflein, B., Muñoz-Martínez, A. M., & Rincón, C. L. (2018). Responding to gender and sexual minority stress with functional analytic psychotherapy. Psychotherapy, 55(1), 63–72. https://doi.org/10.1037/pst0000157

Tsai, M., Kohlenberg, R. J., Kanter, J. W., Kohlenberg, B., Follette, W. C., & Callaghan, G. M. (2011). Um guia para a psicoterapia analítica functional (FAP): consciência, coragem, amor e behaviorismo (F. Conte, & MZ Brandão). Santo André: ESETEc Editores Associados.(Obra publicada originalmente em 2009).


[1] A metodologia da pesquisa foi delineamento experimental de caso único com reversão, e contou com dois participantes, com ordem alterada de apresentação das fases. Os dados foram analisados utilizando o instrumento Functional Analytic Psychotherapy Rating Scale (FAPRS).