​E quando o terapeuta precisa confrontar o cliente? 01/04/2024 Psicologia e Análise do Comportamento ​E quando o terapeuta precisa confrontar o cliente? Compartilhar:

Os clientes olham para o seu terapeuta e frequentemente veem semelhanças com pessoas do seu cotidiano. Seja um pai, um irmão ou um amigo, existem características - físicas, pessoais, jeito de falar - no terapeuta que despertam muitos sentimentos em quem começa a psicoterapia. O que os clientes não sabem é que os terapeutas enfrentam uma questão parecida e isso, às vezes, adicionam uma camada de desafio nas intervenções do psicólogo.

Dessa forma, a relação dentro do setting clínico sempre reserva a cada um dos envolvidos - tanto o psicólogo quanto o seu cliente - inúmeros sentimentos. Assim como para o cliente é difícil se despir em palavras, para o seu terapeuta, muitas vezes, ser eficaz, isto é, intervir de maneira a ser útil e provocar aprendizado, pode ser um desafio. Um daqueles que a prática constantemente proporciona e cuja abertura do terapeuta é essencial para o avanço do trabalho terapêutico.

Em uma supervisão que fiz com outro profissional, eu relatei sobre uma vez em que, na clínica, senti medo de expor uma análise importante e ter de lidar com uma possível reação de desagrado do meu cliente. Entretanto, era justamente o mais importante para o desenvolvimento pessoal daquela pessoa. Eu tive sentimentos de nervosismo quando me deparei com uma situação, imaginada, vale dizer, de uma pessoa indo embora diante de uma fala mais firme de minha parte.

O que me surpreendeu foi a maneira cuidadosa com a qual o meu supervisor, um terapeuta mais experiente que coordena o projeto da Incubadora de Psicólogos do Continuum, me trouxe uma situação parecida: suas mãos suaram no momento em que ele necessitava confrontar o cliente, o que foi feito. E imediatamente toda aquela sensação se dissipou naquele e em outros momentos parecidos na clínica. Foi tranquilizador escutá-lo naquele momento.

Compreendi que o receio de parecer inadequado na clínica é uma reação normal diante de algo difícil como fazer a devolutiva daquilo que não vai bem. A profissão do psicólogo é um caminho permeado por pequenos enfrentamentos diários que potencializa o manejo clínico e enche de valor o uso das ferramentas terapêuticas que o profissional tem ao seu dispor. Não há como auxiliar o cliente a lidar com suas angústias se o profissional evita a dose do desconforto que lhe cabe de peito aberto.

_____________________

Psi. Lucas Avelar

Psicólogo da Incubadora do Instituto Continuum